domingo, 3 de maio de 2015

Jeito de Coisa Encantada

Quando olhei dentro deles... Em teus olhos... Me desencontrei de mim mesmo
Perdi-me no verde deles
Um verde como o verde das matas fechadas
Onde encontramos mato antigo e seres do mistério
Onde o capaz caçador perde sua trilha e não retorna para casa.
É desse jeito moça... Esses olhos teus...
Mas como encontrar o barbante dentro do labirinto é quando tu sorris
As coisas todas parecem voltar ao seu lugar natural no mundo que há dentro de mim
Feito o teu sorriso fosse uma regra fundamental do universo criado.
É desse jeito moça... esse jeito teu. 
E você diz: amigos. 
Me fragmenta o peito em lascas de tristeza
Sereia sem dó!
Ainda assim não cessas teu canto inebriante
Não cessas de me atrair para as tuas águas do desejo.
Porque moça? 
Acaso lhe é prazeroso brincar com o coração do amante errante?
E ficamos nessa ciranda sem fim, como a terra e a lua
Valsando sem jamais tocarem seus corpos.
Que jeito tem? Que jeito afinal teria?
Se foi por esse seu jeito mulher que eu vendi minha alma a ti naquele dia...
Mas não largo a esperança não! 
Sou pescador experiente
Minha rede é firme, esperta e paciente.

sábado, 25 de abril de 2015

Resenha - O Nome do Vento/O Temor do Sábio



Meu colega de faculdade veio me falar de um livro chamado O Nome do Vento. Ele dizia que a história se ambientava em uma época semelhante a era vitoriana, cheia de tramas e conspirações. Mas também haviam seres fantásticos e um personagem extremamente misterioso chamado Couti. No começo eu não dei muita bola mas depois de um tempo, vendo a maneira super-empolgada que ele se referia ao livro resolvi dar uma chance e peguei emprestado dele. Uma das, senão a melhor, decisões da minha vida de leitor. 
Kote (segundo o livro algo como Kuouth mas eu na minha forma de pronunciar o V aparece. O autor também pronuncia o V. Esqueça o E), o dono de uma hospedaria de beira de estrada. Todas as noites os aldeões bebem e contam histórias naquele local. E algumas dessas histórias são sobre uma enigmática figura lendária do passado chamada de Kvothe, que em algumas versões é o herói e em outras o vilão. Um escriba viajante acaba então por chegar a hospedaria de Kvothe. Depois de um tempo analisando o proprietário do estabelecimento ele da-se conta de que de alguma maneira está diante do próprio Kvothe e pede-lhe que lhe conte a sua verdadeira história, afim de que ele possa registrá-la. Depois de um pouco de renúncia Kote/Kvothe cede ao pedido mas salienta que serão necessários três dias para que toda a sua trajetória até ali seja narrada. O Cronista (é assim que ele é referido mais frequentemente) tinha um compromisso inadiável mas pesando as coisas na balança opta por aceitar os termos do hospedeiro. 
Kvothe nasceu numa trupe itinerante. Sua infância foi marcada pelas artes e por muitas viagens. Ele é paixonado pela música do alaúde, um antigo instrumento de cordas medieval. Ele também aprende os princípios do arcanismo, uma espécie de ciência mágica. Mas uma tragédia ocorre numa dessas muitas viagens. Um grupo maligno conhecido apenas como O Chandriano assassina brutalmente toda a trupe de Kvothe! Só ele foi deixado vivo. A partir daí ele passa a enfrentar muitas dificuldades e tem que se virar para poder para sobreviver. Com muito esforço Kvothe consegue ingressar na Universidade, onde ele almeja continuar seus estudos para se tornar um arcanista completo e também investigar o Chandriano. Mas as coisas no mundo acadêmico também não são fáceis, é o que Kvothe logo percebe. Ele tem que lidar com dificuldades financeiras, preconceito, intrigas e armações e até uma paixão mal resolvida. 
Eu diria que O Nome do Vento é algo no meio termo dos três últimos volumes de Harry Potter e  a série Crônicas de Gelo e Fogo, mas que consegue ser surpreendentemente original em tudo. Patrick Rothfuss, o autor, não quer jogar com cartas repetidas. Os lugares que servem de cenário, a mitologia e a história dos Quatro Cantos (é assim que o universo fantástico da história é primeiramente identificado) e todo o sistema de conceitos do arcanismo; é tudo muito bem estruturado! O desenvolvimento dos personagens também é muito interessante e a leitura é muito cativante. O primeiro livro centra-se na adaptação de Kvothe dentro do ambiente da Universidade e em algumas aventuras nas imediações dela. 
Já no Temor do Sábio, o segundo volume da Crônica do Matador do Rei (este é o título da série) Rothfuss expande seu universo. Ele retira Kvothe de dentro do ambiente acadêmico e o insere em uma empolgante viagem, repleta de descobertas, intrigas, reviravoltas e novos mistérios. O protagonista conhece novas terras e culturas e é possível aprender muito mais sobre coisas mencionadas no primeiro livro. A sexualidade também ganha um tom mais acentuado dentro do enredo e a personalidade de Kvothe é melhor trabalhada e desenvolvida em diversos aspectos.
Por mais que eu escreva aqui, não será o suficiente para que você entenda. Se quiser compreender a natureza da obra de Patrick Rothfuss você terá de lê-la e experimentá-la. E acredite: Se você tiver o mínimo de entusiasmo e não desanimar nos primeiros capítulos não se arrependerá. O estilo do autor é imersivo, influência de Neil Gaiman, uma de seus principais inspiradores, segundo declarou ele mesmo em uma entrevista. Com uma boa leitura mergulha-se de tal forma dentro da trama que é muito fácil se apegar ao personagens e lugares, como se você já os conhecesse a anos. 
Resumindo: É uma escolha muito inteligente começar a ler a Crônica do Matador do Rei ao meu ver.

Contador de Histórias

As histórias são fortes em minha família.
Estiveram com meus avós;
Depois pertenceram a meus pais
Agora estão comigo.

As encontrei em muitos lugares
Nas vozes, nas letras, nas formas
Se você for sensível e prestar a devida atenção
Poderá encontrar histórias escondidas até mesmo dentro do silêncio.

São coisas poderosas as histórias
Podem criar dentro de nós o espírito de fogo de um mártir
Ou nos fazer cometer as maiores atrocidades em nome de supostos bens maiores
Até mesmo a pesada indiferença pode instalar-se por meio delas
Como o pesado urso que farto de gordura se deita para o inverno
E abandona por completo a ideia da existência de outros.

Minha missão é semear o conflito
Mas esqueça a pólvora, o plutônio e os corpos amontoados sob o sol que Deus criou
Quero guerra é dentro de você
Anseio por vê-los combaterem-se com extrema ferocidade no seu interior
O seu lobo branco e o seu lobo negro
A sua luz e a sua escuridão
A sua gentileza e o seu egoísmo
A sua justiça e o seu pecado
O seu amor e o seu ódio.
A sua consciência apática transformada em um coliseu é o que almejo.

Certa vez um velho índio disse uma verdade sobre tal metafísico combate
De que o lobo vencedor dentro de nosso coração é aquele a quem mais alimentamos.
E o que porventura a animalidade do espírito humano comeria?
Enigma digno de esfinge.
Para mim a melhor comida é a palavra, o significado, o sentido
Forças invisíveis capazes de ordenar o caos que há dentro dos homens.
E certamente é sempre melhor dar esta sagrada ração ao cândido lobo, a aparência do bem
Deixemos a fera escura enfraquecer e cair derrotada na arena de nossos pensamentos e atitudes.
Aprendi com um mestre carpinteiro que este é sempre o melhor caminho.
É por isto que ouço e conto histórias


Porque carrego a recôndita esperança de um dia ver todas as tribos, reinos e nações como uma grande e alva alcateia unida rumo ao amanhã.