Era uma manhã
fresca. Edward Elric e eu observávamos o Rio Omethi sentados sobre a mureta da
Ponte de Pedra. Usávamos roupas limpas e estávamos fisicamente recuperados
depois de alguns dias na Iátrica. Ed estava sem seu braço biomecânico. Sua mala
estava atrás de nós.
_Ainda
não acredito que a derrotamos. _ disse eu.
_Também
tenho dificuldade nisso. _ declarou Ed.
Um
peixe se agitou nas águas lá embaixo.
_Usar
ferro contra ela foi muito inteligente da sua parte. _ observei.
_Lógica do senso comum. Pelo menos funcionou.
Mas me explique: aquilo que você fez com meu automail, sua espada e o raio foi
Nomeação também?
_Não.
Foi Simpatia. É uma espécie de redirecionamento de energia.
_Eu
vi de longe. Não sei o que aconteceu primeiro: a carbonização ou a explosão
causada pelo superaquecimento do óleo da prótese. Foi para virar tema de
canção.
Ri
com meu melhor riso de Grande Taborlin.
_E como foi que você conseguiu trazer todas as
pessoas transmutadas de volta vivas? _ interroguei depois.
_A Pedra Filosofal que era o núcleo de Susph
não se desfez mesmo após o corpo dela desintegrar-se. Deduzo que foi em razão
dela ter sido criada com a combinação de alquimia e o que vocês chamam de
magia. Se eu estivesse limitado a círculos de transmutação teria tido sérios
problemas para reverter a troca com um braço só. Nunca havia tentado semelhante
processo. Foi sorte ter dado certo.
Conversamos
sobre várias outras coisas. Mas não ousei perguntar a Ed sobre o misterioso
grupo secreto que ele vinha enfrentando ao lado do irmão em Amestris. Pelo modo
que eu o ouvira falar deles tratava-se de uma questão antiga que ele se via na
obrigação de resolver, tal como eu enxergava o Chandriano. Ed também não me fez
mais perguntas sobre rhintas.
Depois de algum tempo Alphonse chegou. A
armadura vinha da Ficiaria e estava nova em folha.
_Como
está Al? _ perguntou Ed.
_Me movimentando muito melhor. Além de me
reparar Mestre Kilvin gravou algumas runas de compensação de peso em mim. E
nosso guia, onde está?
_Está se recuperando em outro lugar. _
respondi _ Ele insiste em dizer que usar da medicina dos bárbaros não é da
Lethani.
_Que fanático. _ comentou Ed _ Ainda não
entendi o que essa tal Lethani é. É uma religião?
_ Não é uma religião. _ expliquei _ É um
caminho de existência. Religiões exigem que façamos coisas diferentes. A
Lethani exige que sejamos diferentes.
_É
não é a mesma coisa? _ interrogou Alphonse.
_É
muito diferente. _ falei.
_Olhem,
falando no sujeito... _ apontou Ed.
Nós nos voltamos. Tempi vinha da direção de
Imre. Tinha um ótimo aspecto. Estava acompanhado por uma moça de cabelos
louro-avermelhados. No rostinho de elfo de Devi eu vi uma expressão que passara
a conhecer depois de minhas últimas viagens: a expressão de uma mulher
satisfeita com um homem. Era na residência dela que o ademriano estivera sendo
“tratado”.
Alphonse
suspirou sonoramente. Ed, com uma indignação cômica, disse:
_Francamente... é a quarta desde que deixamos Haerth.
Não pude
evitar uma risada. Decidi amenizar
possíveis embaraços. Desci da mureta e cumprimentei os dois recém chegados:
_Olá Tempi. Olá Devi.
_Olá.
_Olá Kvothe. Olá rapazes. _ ela sorria de
orelha a orelha.
_Como
está o seu ombro Tempi? _ perguntei.
_Está muito bom. _ se apressou a responder
Devi _ A cicatrização do ferimento vai de vento em popa. Apliquei nele uma
pasta preparada com ervas da região do Ademre.
Eu cuidei muito bem do Tempi. _
Num gracejo ela beliscou o braço do “camisa de sangue”.
O
ligeiro sorriso do mercenário foi de alguém que sabia um segredo.
Mas
uma pergunta maior ainda martelava em minha cabeça:
_Tempi,
como você sobreviveu ao raio que lhe atingiu na luta?
O
ademriano desembainhou sua espada e exibindo o fio explicou:
_Há muito tempo havia um ferreiro no Ademre.
Conhecia o fogo por seu nome. Seguia a Lethani. Com seu poder fez várias
espadas de metais raros para servir aos ademrianos durante a dura guerra que
acontecia. Minha espada é uma delas. Foi forjada de aço e de um metal que não
se encontra mais no mundo. Chama-se hef e repele eletricidade. Muito útil em
altitudes elevadas. O que recebi em meu corpo foi choque forte. Intensidade
maior do raio já dispersada antes.
_Incrível!
_ exclamou Alphonse.
Edward
desceu da mureta da ponte e pegando sua maleta disse:
_O papo está interessante mas temos que ir
agora. Amestris está muito distante e nossa jornada será longa. _ Ed estendeu
sua única mão para mim_ Kvothe, foi um grande prazer conhece-lo. O seu auxílio
foi precioso. Obrigado por tudo.
Também estendi meu braço a ele.
_O
prazer foi todo meu Ed. Dê meus cumprimentos a Roy Mustang.
Nosso
aperto de mãos foi firme.
_Espero
que vocês consigam restaurar seus corpos. _ falei.
_E eu espero que você encontre as
respostas que procura. _ disse Ed.
Devi
devolveu-me o alaúde e o estojo “penhorados” assim como o relógio de Alquimista
do Estado de Ed. Em seguida nos despedimos de Alphonse e Tempi. Posso jurar que
ela derramou uma lágrima enquanto observava o mercenário de afastar com os
outros.
Quando os três já iam ao final da ponte
gritei:
_ED, VOCÊ TEM QUE PROMETER!
_PROMETER O QUÊ? _ perguntou Ed
virando-se.
_PROMETER QUE
VAI CONTAR EM AMESTRIS A HISTÓRIA DO FABULOSO HERÓI QUE TRANSFORMOU SEU
AUTOMAIL NUMA BOMBA!
Mesmo a longa
distância eu soube que O Alquimista de Aço sorriu. Antes de se voltar e descer
a Ponte de Pedra eu o ouvi declarar bem alto:
_EU, EDWARD
ELRIC, JURO SOLENEMENTE QUE ATÉ OS DIAS DE MINHA VELHICE REPETIREI OS FEITOS DE
KVOTHE, O ALQUIMISTA DO VENTO. DOU MINHA PALAVRA DE AÇO!