sábado, 13 de agosto de 2016

Palavra de Aço - Capítulo 15: Palavra de aço



Era uma manhã fresca. Edward Elric e eu observávamos o Rio Omethi sentados sobre a mureta da Ponte de Pedra. Usávamos roupas limpas e estávamos fisicamente recuperados depois de alguns dias na Iátrica. Ed estava sem seu braço biomecânico. Sua mala estava atrás de nós.
            _Ainda não acredito que a derrotamos. _ disse eu.
            _Também tenho dificuldade nisso. _ declarou Ed.
             Um peixe se agitou nas águas lá embaixo. 
             _Usar ferro contra ela foi muito inteligente da sua parte. _ observei.
 _Lógica do senso comum. Pelo menos funcionou. Mas me explique: aquilo que você fez com meu automail, sua espada e o raio foi Nomeação também? 
            _Não. Foi Simpatia. É uma espécie de redirecionamento de energia. 
            _Eu vi de longe. Não sei o que aconteceu primeiro: a carbonização ou a explosão causada pelo superaquecimento do óleo da prótese. Foi para virar tema de canção. 
             Ri com meu melhor riso de Grande Taborlin.
 _E como foi que você conseguiu trazer todas as pessoas transmutadas de volta vivas? _ interroguei depois. 
 _A Pedra Filosofal que era o núcleo de Susph não se desfez mesmo após o corpo dela desintegrar-se. Deduzo que foi em razão dela ter sido criada com a combinação de alquimia e o que vocês chamam de magia. Se eu estivesse limitado a círculos de transmutação teria tido sérios problemas para reverter a troca com um braço só. Nunca havia tentado semelhante processo. Foi sorte ter dado certo.  
Conversamos sobre várias outras coisas. Mas não ousei perguntar a Ed sobre o misterioso grupo secreto que ele vinha enfrentando ao lado do irmão em Amestris. Pelo modo que eu o ouvira falar deles tratava-se de uma questão antiga que ele se via na obrigação de resolver, tal como eu enxergava o Chandriano. Ed também não me fez mais perguntas sobre rhintas. 
 Depois de algum tempo Alphonse chegou. A armadura vinha da Ficiaria e estava nova em folha. 
            _Como está Al? _ perguntou Ed.
 _Me movimentando muito melhor. Além de me reparar Mestre Kilvin gravou algumas runas de compensação de peso em mim. E nosso guia, onde está?  
 _Está se recuperando em outro lugar. _ respondi _ Ele insiste em dizer que usar da medicina dos bárbaros não é da Lethani. 
 _Que fanático. _ comentou Ed _ Ainda não entendi o que essa tal Lethani é. É uma religião?
 _ Não é uma religião. _ expliquei _ É um caminho de existência. Religiões exigem que façamos coisas diferentes. A Lethani exige que sejamos diferentes.
             _É não é a mesma coisa? _ interrogou Alphonse.
            _É muito diferente. _ falei.
            _Olhem, falando no sujeito... _ apontou Ed. 
 Nós nos voltamos. Tempi vinha da direção de Imre. Tinha um ótimo aspecto. Estava acompanhado por uma moça de cabelos louro-avermelhados. No rostinho de elfo de Devi eu vi uma expressão que passara a conhecer depois de minhas últimas viagens: a expressão de uma mulher satisfeita com um homem. Era na residência dela que o ademriano estivera sendo “tratado”. 
             Alphonse suspirou sonoramente. Ed, com uma indignação cômica, disse:
            _Francamente...  é a quarta desde que deixamos Haerth.  
Não pude evitar uma risada.  Decidi amenizar possíveis embaraços. Desci da mureta e cumprimentei os dois recém chegados:
_Olá Tempi. Olá Devi. 
_Olá. 
_Olá Kvothe. Olá rapazes. _ ela sorria de orelha a orelha. 
             _Como está o seu ombro Tempi? _ perguntei. 
 _Está muito bom. _ se apressou a responder Devi _ A cicatrização do ferimento vai de vento em popa. Apliquei nele uma pasta preparada com ervas da região do Ademre.
Eu cuidei muito bem do Tempi. _ Num gracejo ela beliscou o braço do “camisa de sangue”.
             O ligeiro sorriso do mercenário foi de alguém que sabia um segredo. 
             Mas uma pergunta maior ainda martelava em minha cabeça:
             _Tempi, como você sobreviveu ao raio que lhe atingiu na luta?
             O ademriano desembainhou sua espada e exibindo o fio explicou:
 _Há muito tempo havia um ferreiro no Ademre. Conhecia o fogo por seu nome. Seguia a Lethani. Com seu poder fez várias espadas de metais raros para servir aos ademrianos durante a dura guerra que acontecia. Minha espada é uma delas. Foi forjada de aço e de um metal que não se encontra mais no mundo. Chama-se hef e repele eletricidade. Muito útil em altitudes elevadas. O que recebi em meu corpo foi choque forte. Intensidade maior do raio já dispersada antes.  
            _Incrível! _ exclamou Alphonse. 
            Edward desceu da mureta da ponte e pegando sua maleta disse:
 _O papo está interessante mas temos que ir agora. Amestris está muito distante e nossa jornada será longa. _ Ed estendeu sua única mão para mim_ Kvothe, foi um grande prazer conhece-lo. O seu auxílio foi precioso.  Obrigado por tudo. 
Também estendi meu braço a ele. 
            _O prazer foi todo meu Ed. Dê meus cumprimentos a Roy Mustang. 
            Nosso aperto de mãos foi firme. 
             _Espero que vocês consigam restaurar seus corpos. _ falei. 
_E eu espero que você encontre as respostas que procura. _ disse Ed. 
Devi devolveu-me o alaúde e o estojo “penhorados” assim como o relógio de Alquimista do Estado de Ed. Em seguida nos despedimos de Alphonse e Tempi. Posso jurar que ela derramou uma lágrima enquanto observava o mercenário de afastar com os outros. 
Quando os três já iam ao final da ponte gritei:
_ED, VOCÊ TEM QUE PROMETER! 
_PROMETER O QUÊ? _ perguntou Ed virando-se. 
_PROMETER QUE VAI CONTAR EM AMESTRIS A HISTÓRIA DO FABULOSO HERÓI QUE TRANSFORMOU SEU AUTOMAIL NUMA BOMBA! 
Mesmo a longa distância eu soube que O Alquimista de Aço sorriu. Antes de se voltar e descer a Ponte de Pedra eu o ouvi declarar bem alto:
_EU, EDWARD ELRIC, JURO SOLENEMENTE QUE ATÉ OS DIAS DE MINHA VELHICE REPETIREI OS FEITOS DE KVOTHE, O ALQUIMISTA DO VENTO. DOU MINHA PALAVRA DE AÇO!

Nenhum comentário:

Postar um comentário