sábado, 13 de agosto de 2016

Palavra de Aço - Caítulo 8: Cinza e amarelo



O Cinzeiro de Deus. Que piada da existência! Vista Velha, o distrito onde viveram os mais devotos tehlinianos de Imre de todos os tempos havia sido engolido por um incêndio acidental repentino e para várias famílias, fatal. Uns diziam que a causa havia sido uma explosão em uma forja, outros contavam que uma simples vela e uma dose de desatenção haviam sido os iniciadores das chamas. Era noite. Quando o povo percebeu as labaredas já haviam se espalhado assustadoramente. Houve sobreviventes mas também muitos mortos. Entre os que escaparam, vários tiveram sequelas irreparáveis, dentre os quais muitos se tornaram aleijados e alguns enlouqueceram. Registraram-se suicídios. Eu sabia de um indivíduo no Aluadouro que escapara de ser queimado vivo. Mantinham-no em uma sala livre de qualquer material que pudesse inflamar caso contrário ele surtava e começava a proferir insultos e blasfêmias sem igual. Tratava-se de um quadro muito severo. Pobre infeliz. 
 E lá estávamos nós quatro, caminhando sobre os escombros queimados de dezenas de lares do passado. O mato conseguira crescer em alguns pontos isolados mas a grande parte do solo ficara estéril graças ao calor extremo daquela fatídica noite. As construções onde a matéria prima principal foram blocos de barro ou rocha remanesciam porém escurecidas, como um lembrete da desgraça passada. Se não havia espíritos atormentados assombrando o Cinzeiro de Deus pelo menos o espírito de quem passava por aquele canto malvisto da cidade podia atormentar-se um pouco. Isto não era invencionice. 
             _Como encontraremos O Sem Nome? _ questionei meus companheiros. 
 O bairro era relativamente grande e havia cerca de duas dúzias de construções restantes onde nosso inimigo comum poderia estar. 
 _Isso é fácil. _ disse Alphonse _ Ele certamente estará onde sua quimera estiver. Então só precisamos descobrir onde a quimera está e o localizaremos. Temos que atraí-la e ver de onde surgirá! 
_Acho que sei como podemos fazer isto. _ disse Ed. 
 O Alquimista de Aço retirou de dentro de seu sobretudo um tubo de ensaio de conteúdo amarelado fechado com uma rolha. Ele o destampou e disse:
 _Essa substância é a evidência encontrada nos cenários dos raptos. Kvothe, respondendo a sua pergunta na casa de Devi, uma quimera é um ser sintetizado a partir de dois ou mais organismos diferentes através de alquimia. É uma prática proibida em meu país por ferir gravemente a bioética. A quimera que procuramos é um tipo de predador que tem a habilidade de caça de incapacitar suas presas expelindo nelas este líquido paralisante. Agora, adicionando isto... _ Ed tira um saquinho da cintura, rompe sua amarração com os dentes e derrama um pó branco no tubo. A substância passa da cor amarelo para o verde e começa a reluzir fortemente. Ele então se abaixou e despejou a fórmula na terra seca. Um cheiro acre preencheu o ambiente.
            _Isto deve funcionar. _ falou Ed.
Tempi observava a tudo com seu ar ausente de afetos. Eu não estava externalizando mas meu nervosismo era forte. Então ouviu-se um ruído bestial cortar a atmosfera. Um rugido. O luar iluminou-a.
            _No alto da igreja! _ apontei. 
 Uma assustadora forma estava encarapitada no alto da parte frontal do templo semidestruído, como uma estátua de gárgula. O monstro emitiu outro som selvagem e alçou voo, vindo veloz na direção de nosso grupo. A medida que se aproximava pude-a distinguir melhor. Possuía tronco e braços humanos, pernas de bode, um par de longas asas marrons de ave de rapina brotava de suas costas e sua cabeça era a de um gorila. Voava como uma flecha. Pelo menos um de nós não escaparia. Alphonse então pulou na frente de todos e com seu enorme corpo de aço segurou a quimera com um abraço poderoso. Ele foi empurrado para trás mas seus pés, firmes ao chão, deslizaram apenas uns poucos metros. 
 _Vão! Depressa! Para a igreja! O Sem Nome está lá! Depois os alcançarei! _ gritou a armadura. 
            _Mas Al... _ Ed não queria deixá-lo.
 _Mano, você precisa ir! Se este alquimista estiver trabalhando no que pensamos que está cada segunda conta para detê-lo! Agora vá! Eu os alcançarei depois! _ gritou Alphonse com a fera mutante debatendo-se entre o aperto de seus braços.
 _Se você morrer eu lhe mato Al! _ berrou Ed e disparou rumo a igreja. Tempi e eu o seguimos. 

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