sábado, 13 de agosto de 2016

Palavra de Aço - Capítulo 13: Verdade



_Sabia que Fae é um espelho desse mundo Kvothe? _ disse o psicopata _ Neste exato momento em um ponto daquele mundo exatamente correspondente a este lugar está um outro círculo de transmutação, um pouco diferente deste, feito por mim. Naquele porém estão posicionados os componentes que usarei para gerar o receptáculo faerie. Aqui tenho as vidas que usarei para produzir a Pedra que vitalizará o corpo. Depois disso só precisarei invocar o espírito de Bertel para residir nele. Quando eu a tiver viva ao meu lado rumaremos juntos para a Universidade. Destruiremos aquele lugar que nos trouxe tanto sofrimento. Não ficará pedra sob pedra. 

O Alquimista Sem Nome bateu as duas palmas das mãos. Senti o som ecoar visceralmente. Quando ele tocou a borda do círculo alquímico este emitiu uma forte luminosidade vermelha. As treze pessoas que estavam lá dentro então como que foram sendo tragadas para baixo, até desaparecerem por completo. Um nome foi dito. Nunca havia visto alguém chamar como o Sem Nome chamou sua amada. Um chamado como Menda chamaria alguém. Por três vezes eu o ouvi. 

Então o mais perturbador aconteceu: uma medonha forma como uma grande pupila tomou o interior do círculo de transmutação humana. Me encolhi de medo no chão. Eu me senti ignorante ao extremo, como se tudo o que eu já houvesse aprendido na vida fosse menos que estrume e não respondesse a nada do que eu queria realmente saber. Era como se no interior daquele olho estivesse “a grande resposta”, a qual sendo obtida poderia levar um ser humano à mais alta iluminação ou a mais horrível perdição. E isso ainda é uma descrição rasa do que experimentei ao encarar aquele tenebroso olho. Pude ver o Sem Nome recuar alguns passos.

Um som estranho acompanhava toda aquela visão arrepiante. Auri teria descrevido aquele barulho como um cicio de coisas virando outra coisa. Então da pupila gigante começou a se elevar uma forma feminina nua. Não era nem muito alta nem muito baixa. Suas curvas eram hipnóticas e tinha cabelos negros e sedosos. Ela me lembrava a erótica deidade com quem tive a minha primeira experiência sexual, com a exceção de ser mais morena, com traços mais maduros e ter orelhas pontudas. Ela fumegava ainda, como uma sopa recém pronta. A faerie se elevou a uns três metros do chão e permaneceu flutuando no ar, de olhos cerrados e imóvel.

_Bertel? _ chamou o Alquimista Sem Nome.

 A figura abriu um arrebatador par de olhos violeta e examinou seu invocador com curiosidade. 

             _Lembra-se de mim minha querida? _ perguntou o homem sem rosto. 

 Por uns segundos ela pareceu esforçar-se para recordar-se. Então sorriu. Mas não foi um sorriso amistoso. Foi um sorriso malévolo e ancestral. Com uma voz que não tinha nada de humano ela falou:

 _Eu não tenho nada daquela que você esperava trazer de volta do Sono homenzinho. 

             O Sem Nome recuou mais um pouco. A misteriosa beldade recitou: 



Eu sou a lei que não deveria ter sido violada. 
Sou a canção que não deveria ter sido cantada.  
Sou a pergunta proibida que não deveria ter sido feita. 
Eu sou Susph.

             

Ouvi ruídos metálicos. Alphonse surgira de algum lugar e desenhava um círculo para transmutar o lugar do chão onde o automail de Ed estava preso. Com tudo que se desenrolava eu nem notara sua aproximação. Suas peças estavam com vários riscos e alguns amassados. Além disso tinha um pouco de secreção amarela de quimera no seu ombro direito. Vê-lo me deixou aliviado mas não me arrancou do meu pânico. O Alquimista Sem Nome brincara com forças além de sua compreensão e ao invés de reviver sua enamorada havia trazido para nosso mundo um ser que seguramente não deveria ter saído de onde se encontrava. 

             O Alquimista Sem Nome caiu sobre seus joelhos.

 _Mas... eu fiz tudo como o Chtaeh me instruiu. Não tinha como nada dar errado! _ lamentou-se ele. 

 _Humano simplório... _ debochou Susph _ Você foi manipulado o tempo todo apenas com o propósito de libertar-me do limbo onde fui aprisionada a milhares de anos. Foi um rei que me selou. Um odiável rei que a tudo conhecia pelo nome. Mas o Chtaeh, meu mais antigo aliado, teve inteligência e paciência e afinal concedeu-me a liberdade. Devo retribuir-lhe o favor o quanto antes.

 Eu não quis estar na pele do Sem Nome naquele momento. Se meu cérebro estava a ponto de se liquefazer diante daquelas revelações o que estaria a pensar ele vendo que fora vítima de um engodo cabal?  

_Você achou mesmo que destruindo seu nome estaria livre do olhar da Verdade? _ perguntou Susph ao alquimista.  

 Ele se afastava mais ainda dela quando dois longos braços feito de sombras saíram da enorme pupila no círculo de transmutação e agarraram-no pelas canelas. Ele foi derrubado no chão e começou a ser puxado em direção a luz avermelhada. Começou a berrar:

           _NÃO! NÃO! NÃO! POR FAVOR NÃO! TUDO MENOS ISSO!

Em meio aos seus gritos algo surpreendente aconteceu. Um rosto surgiu-lhe na cabeça raspada. Porém não consegui determinar ao certo sua aparência tamanha estava a sua expressão transfigurada pelo horror. Susph voltou a falar: 

_Não há nada oculto para A Verdade. Nem mesmo um nome profundo apagado. Sabe por quê? Porque foi Ela que chamou todas as coisas a existência. O Homem somente as identificou com sua imunda língua. Mas é a Verdade que conhece todas as estrelas e as chama pelo nome. Ela é a Consciência Universal. Três vezes você poderia ter destruído seu nome e mesmo assim não o teria realmente feito. Isso porque ele não lhe pertence para você o destruir. Ele pertence ao Tudo do qual você faz parte, que é por sua vez só uma faceta do Nada. E isto é o que há entre O Princípio e O Fim, acima dos quais A Verdade também está. Ou seja...

_PARE! NÃO! NÃO!

 _...não se pode fugir de quem se é.

_NÃO ME LEVE! POR FAVOR! EU DOU QUALQUER COISA! NÃO ME LEVE PARA LÁ! NÃO! SOCORRO! ME AJUDEM! NÃÃÃÃÃOOOOO!!!

Mais cinco braços se enroscaram no corpo do Sem Nome e ele por fim foi sugado para dentro do grande olho, que depois disso se fechou e desapareceu. O círculo de transmutação apagou seu brilho cor de rubi. Acima dele, Susph pairava, sedutora e ameaçadora. 

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