sábado, 13 de agosto de 2016

Palavra de Aço - Capítulo 7: Interlúdio - Saber



_Que tal pararmos um instantezinho? _ perguntou o hospedeiro. 
 _Os tendões de minha mão agradecem. _ respondeu o Cronista descansando a pena e massageando as juntas dos dedos _ Reitero a dizer: você diz muitas coisas em pouco tempo.
 _E isso porque fugi das aulas de retórica de Mestre Hemme na Universidade. Imagine se eu tivesse decidido ficar. _ respondeu Kote _ Querem algo para morder?
 O escritor e Bast recusaram educadamente. O homem de cabelos escarlate foi para a cozinha da Marco do Percurso. A noite já baixara a algum tempo e a maior fonte de luz agora era a grande lareira de pedras negras do salão da hospedaria. A espada presa a uma placa pendurada na parede atrás do balcão com o dizer “insensatez” talhado na madeira reluziu belamente. Bast contemplando a arma disse em voz baixa ao escritor:
             _O que aconteceu não importa... Temos de fazê-lo se lembrar.
 _Mas ele parece insistir em dizer que no final as coisas não acabaram bem, que algo muito ruim aconteceu e que agora está tudo acabado_ falou o Cronista.
 _Mas não acabou! _ Bast soou inconformado. A angústia estava em sua voz _ Ele ainda é O Kvothe! 
            O escriba nada respondeu. O jovem Encantado continuou:
 _Só precisamos fazê-lo se dar conta disso. Enquanto continuar seu relato temos chance. Mas se ele terminar e não tiver mudado de opinião sobre si mesmo não sei se o fará depois. É um pessimista teimoso dos infernos! Por isso eu acho muito bom você me ajudar. Ou então comerei o seu rim num pão com ovos! _ por um instante o Cronista teve a impressão de ver pequenos chifres entre os cabelos escuros do aprendiz de Kote. O escritor arrepiou-se. O fauno definitivamente o punha medo.
_Eu ouvi a última sentença Bast. Pelos ossos de Deus, quantas vezes terei de pedir para ser mais educado com nosso hóspede? _ indagou Kote com censura ao retornar a mesa. 
            _Perdoe-me Reshi. 
             _Não peça perdão a mim, peça a ele oras!
            _Perdoe-me traça de pergaminhos. 
            _Baaaast... _ralhou Kote.
            _Certo, certo... Devan Lochees, eu te peço perdão três vezes.
            _Perdoado _ respondeu o Cronista tendo o cuidado de não soar triunfante.
 _Agora podemos continuar. _ falou o hospedeiro sentando-se. Ele trazia consigo um grande biscoito de polvilho já pela metade e um copo de cerâmica com suco de maracujá magro. 
  _Você chegou a descobrir como seu professor de nomeação soube sobre sua espada e a enviou através de sua amiga? _ perguntou o Cronista trivialmente. 
 _Para ser sincero esqueci-me completamente de questioná-lo sobre estas coisas depois. Surpreendentemente o assunto só me veio a memória a pouco menos de uma hora, depois de todos estes anos. O impacto do que aconteceu naquela noite realmente afastou essas perguntas pra longe da minha cabeça. Como Mestre Elodin soube? Bem... ele era um grande nomeador e esses “sabem” como ninguém. Como eu sei.    

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