_Que tal pararmos um instantezinho? _
perguntou o hospedeiro.
_Os tendões de minha mão agradecem. _
respondeu o Cronista descansando a pena e massageando as juntas dos dedos _
Reitero a dizer: você diz muitas coisas em pouco tempo.
_E isso porque fugi das aulas de retórica de Mestre
Hemme na Universidade. Imagine se eu tivesse decidido ficar. _ respondeu Kote _
Querem algo para morder?
O escritor e Bast recusaram educadamente. O
homem de cabelos escarlate foi para a cozinha da Marco do Percurso. A noite já
baixara a algum tempo e a maior fonte de luz agora era a grande lareira de
pedras negras do salão da hospedaria. A espada presa a uma placa pendurada na
parede atrás do balcão com o dizer “insensatez” talhado na madeira reluziu
belamente. Bast contemplando a arma disse em voz baixa ao escritor:
_O
que aconteceu não importa... Temos de fazê-lo se lembrar.
_Mas ele parece insistir em dizer que no final
as coisas não acabaram bem, que algo muito ruim aconteceu e que agora está tudo
acabado_ falou o Cronista.
_Mas não acabou! _ Bast soou inconformado. A
angústia estava em sua voz _ Ele ainda é O
Kvothe!
O
escriba nada respondeu. O jovem Encantado continuou:
_Só precisamos fazê-lo se dar conta disso.
Enquanto continuar seu relato temos chance. Mas se ele terminar e não tiver
mudado de opinião sobre si mesmo não sei se o fará depois. É um pessimista
teimoso dos infernos! Por isso eu acho muito bom você me ajudar. Ou então
comerei o seu rim num pão com ovos! _ por um instante o Cronista teve a
impressão de ver pequenos chifres entre os cabelos escuros do aprendiz de Kote.
O escritor arrepiou-se. O fauno definitivamente o punha medo.
_Eu ouvi a
última sentença Bast. Pelos ossos de Deus, quantas vezes terei de pedir para
ser mais educado com nosso hóspede? _ indagou Kote com censura ao retornar a
mesa.
_Perdoe-me
Reshi.
_Não
peça perdão a mim, peça a ele oras!
_Perdoe-me
traça de pergaminhos.
_Baaaast...
_ralhou Kote.
_Certo,
certo... Devan Lochees, eu te peço perdão três vezes.
_Perdoado
_ respondeu o Cronista tendo o cuidado de não soar triunfante.
_Agora podemos continuar. _ falou o hospedeiro
sentando-se. Ele trazia consigo um grande biscoito de polvilho já pela metade e
um copo de cerâmica com suco de maracujá magro.
_Você chegou a descobrir como seu professor de nomeação soube sobre sua
espada e a enviou através de sua amiga? _ perguntou o Cronista
trivialmente.
_Para ser sincero esqueci-me completamente de
questioná-lo sobre estas coisas depois. Surpreendentemente o assunto só me veio
a memória a pouco menos de uma hora, depois de todos estes anos. O impacto do
que aconteceu naquela noite realmente afastou essas perguntas pra longe da
minha cabeça. Como Mestre Elodin soube? Bem... ele era um grande nomeador e
esses “sabem” como ninguém. Como eu sei.
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