_Vamos fazer uma pausa. _disse o
hospedeiro.
O Cronista
limpou a ponta da pena com um pequeno pedaço de pano branco e a descansou sobre
a folha de papel, escrita até a metade. Bast deu uma espreguiçada em sua
cadeira. Já era noite. Kote se levantou e foi para trás do balcão do salão da
hospedaria Marco do Percurso. O homem ruivo tirou um copo de baixo da tábua e
escolheu uma das garrafas atrás de si. Tirou um saca rolha de algum lugar e
iniciou o procedimento de abri-la.
_Tendo a pensar que você não necessita
disso. _ falou o escriba com um sorriso.
O hospedeiro pareceu perdido.
_Como disse? _ perguntou.
_Acho que você
consegue perfeitamente retirar esta rolha, por mais fixa que ela esteja, apenas
com as mãos. _ respondeu o outro.
Kote sorriu
matreiramente. Ele abriu a garrafa e despejou uma bebida quase tão vermelha
quanto seus cabelos no copo sobre a madeira lisa.
_Você tem
razão. Eu poderia fazer com isso facilmente. Em siglística se aprende coisas
muito interessantes sobre pressão. Mas tomar um bom vinho é um ritual onde os
pequenos toques são sagrados. Quebrei muitas regras em toda a minha vida mas
dessa eu me abstenho de fazer o mesmo.
Bast riu com afeto e disse:
_Você é mesmo incrível Reshi!
O hospedeiro
depositou a garrafa ao lado do copo no balcão. Com simplicidade respondeu:
_Eu apenas fui um pouco mais audacioso que
a maioria Bast.
Um cachorro uivou em algum lugar lá fora.
_Você já encontrou alguém parecido com
você? _ indagou o Cronista.
_Como assim? _ interrogou Kote.
_Quero dizer
se já conheceu alguém com este mesmo modo de lidar com as coisas como você
lida, com essa mesma agudeza de espírito que você quase sempre demonstrou
diante das dificuldades. Já topou com outra pessoa assim?
Kote bebeu um gole de seu vinho carmesim e
falou em seguida:
_A tragédia é
uma professora severa. Mas quem aprende com ela nunca mais é o mesmo diante das
contingências do viver. Certa vez conheci alguém com quem me identifiquei muito
nisso. Ele era conhecido como O
Alquimista de Aço.
_Nunca ouvi a respeito dele. _declarou o
escritor.
_Com um nome
desses como nunca ouvi uma história sobre ele Reshi? _ perguntou o ajudante e
aprendiz de Kote.
_Ele não
pertence a estas partes do mundo Bast. Veio de um país longínquo, do extremo
oriente. Sua passagem por estes reinos foi breve. Mas o suficiente para um
feito memorável. Eu o auxiliei. Ele acabou me auxiliando também.
Com uma curiosidade ávida o Cronista
disse:
_Ficaria feliz em registrar tal
episódio.
_Sim Reshi! Conte-nos! _ pediu Bast com
excitação.
Kote bebeu outro gole. Dessa vez ele
esvaziou todo o conteúdo do copo.
_Trata-se de
uma história interessante. _ disse o Edena Ruh, parecendo mais jovem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário