sábado, 6 de agosto de 2011

Verdades da Guerra



           21 de Maio de 1940.  Meu nome é Dilermando Goulard e eu sou um soldado francês defendendo meu país. Porém eu já não faço mais isso por patriotismo. Faço por que se resolver fugir serei dado como desertor e fatalmente morto. E eu ainda não desejo morrer. Minha maravilhosa esposa Sidney me espera em casa com nosso lindo filho Marlon. Eu tenho esperanças que ainda os verei novamente. Por sorte essa guerra atroz ainda não conseguiu apagar completamente minha fé em Deus.
            Porém uma coisa que eu perdi completamente foi meu patriotismo. Antes eu era só mais um peixeiro de Paris. Só que amava cegamente minha nação. Toda vez que via as forças armadas desfilarem pelas ruas sentia um fogo ardente em meu coração. Viver pela pátria devia ser a melhor coisa do mundo, pensava eu.
            Quando fui convocado pensei que estava tendo uma oportunidade de ouro. Engano. Hoje, depois de ter presenciado tantos horrores no campo de batalha percebo que nenhuma condecoração militar vale nada se você perder uma perna ou um braço. Coragem, bravura? Uma bala ou uma mina terrestre pode acabar com tudo isso num mero segundo. De que valerão tiros para o alto na hora do seu enterro se sua família passar o resto da vida desamparada? Tapinhas nas costas não garantem que você terá um sono tranqüilo de noite, livre de pesadelos com os fantasmas daqueles cujo sangue cobre suas mãos.
            Recordo-me agora de quando durante uma batalha subi em um tanque nazista, abri sua escotilha e joguei uma granada em seu interior. Depois saltei de cima dele e corri depressa para longe. O veículo explodiu de dentro para fora. Os alemães ficaram desfalcados e recuaram. Meu esquadrão comemorou.
            De noite em nosso forte nós celebramos a vitória daquele dia. Bebemos e rimos muito, fazendo piada do bigode de Adolf Hitler. O general cumprimentou-me pelo meu ato em combate e chamou-me herói.
            No entanto, naquela madrugada, eu não conseguia dormir em meu leito. Ficava a pensar nos parentes dos homens que estavam no tanque que eu destruíra. Será que eles tinham mulher e filhos como eu? Será que eles também ansiavam o término daquela tenebrosa guerra para retornarem aos seus lares?
            Então eu cheguei à seguinte conclusão: eu não era nenhum herói como o general havia dito. Não, não era. Na guerra não existem heróis. Existem somente os que matam e os que são mortos. Os que matam ficam conhecidos como heróis. Os que são mortos são chamados de vilões.  

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